segunda-feira, 30 de maio de 2011

Questão 3 - Fichamento

Genética e fisiopatologia dos transtornos depressivos

Beny Lafer e Homero Pinto Vallada Filho

Observações feitas ainda no século XIX por psiquiatras europeus como Morel, Griesinger, Maudsley e Kraepelin já davam conta que esse distúrbio afetivo parecia se concentrar mais em determinadas famílias1. Portanto, desde essas observações clínicas, tem-se procurado demonstrar a existência de um componente genético para as depressões.
Quando se pretende investigar o componente genético da depressão, uma das dificuldades centrais é a caracterização precisa do fenótipo. Chamamos de fenótipo aquelas características observáveis num indivíduo que pretendemos relacionar a uma determinada constituição genética. No caso específico da depressão, mesmo com os critérios operacionais atuais, a confiabilidade do diagnóstico entre diferentes entrevistadores varia bastante, dependendo do número de episódios e da gravidade.
No estudo de genética molecular esse tipo de investigação em geral necessita de famílias grandes e com múltiplos afetados. Entretanto, a principal limitação dessa estratégia é o pressuposto de que a doença em estudo seja causada por um único gene. O que se verifica atualmente é que a depressão não apresenta um padrão de transmissão compatível com um modelo de herança mendeliana simples. Portanto, esse tipo de estudo tem sido muito pouco utilizado.
Um dos principais desafios nos estudos genéticos da depressão continua sendo a caracterização precisa do fenótipo. Entretanto, mesmo apresentando variações no conceito de depressão, pode-se concluir a partir de um grande número de investigações que:
• Estudos com famílias, gêmeos e adotados indicam a existência de um componente genético para depressão tanto unipolar como bipolar.
• Estima-se que este componente genético represente cerca de 40% da susceptibilidade para desenvolver depressão unipolar e 70% para o transtorno bipolar.
• O modo de transmissão genética permanece não definido, embora as análises de segregação já sugiram que a depressão é provavelmente multifatorial.
• Os estudos de genética molecular não conseguiram ainda identificar um locus gênico específico para a depressão, possivelmente por se tratar de uma enfermidade com heterogeneidade etiológica.
Os estudos neuroquímicos e de neuroimagem combinados com a identificação de genes de vulnerabilidade à doença e a pesquisa sobre a interação entre o cérebro e o meio ambiente continuam sendo a melhor estratégia no entendimento da neurobiologia dos transtornos do humor.
Não se pretende reduzir toda a patogênese dos quadros depressivos a alterações neuroanatômicas, mas com certeza a melhor compreensão da etiopatogenia poderá futuramente auxiliar na detecção precoce, no desenvolvimento de novos tratamentos, assim como na predição da resposta terapêutica.
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-44461999000500004&script=sci_arttext

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